Para o Sr. R (que tanto nos faz falta)

Querido Sr. R, nossa como faz tempo. Esses dias me peguei pensando se me recordo ainda do seu rosto, dos traços de seriedade que se dissipavam com o sorriso pilantra que sempre escapava pelo canto da sua boca. Fiquei com medo de saber que a imagem estava sumindo cada vez em minha mente, mas eu sabia que mesmo que se eu não lembrasse mais de como você era, eu sei que sempre vou poder lembrar do que você significava pra mim, aqui dentro do meu coração.
Eu estava me recordando agora pouco das vezes que eu chegava e você estava com sua expressão séria e carrancuda e no momento que eu te abraçava ela se transformava num rosto de bondade que sempre me fazia me sentir feliz.
Bom já fazem o que? Cinco anos? Nossa o tempo passa né? Acho que eu tenho que colocar a parte das coisas que aconteceram neste meio tempo. Vamos começar pela sua família, sim, aquela que todos os dias sente sua falta mas sempre sorri ao lembrar dos momentos que passaram juntos. Puxa como eles mudaram, você nem iria acreditar. Sra. J está linda a cada dia que passa, emagreceu, finalmente tirou o luto e está exuberante. Mas calma, ela jamais vai se esquecer do único grande amor da vida dela, mesmo que eu saiba que você mesmo prefere que ela siga a vida e seja feliz, creio que ela sabe disso também. Se você estivesse aqui com certeza olharia para ela e se sentiria o cara mais sortudo do universo por ter uma mulher maravilhosa como aquela do seu lado, não que você nunca tenha feito isso, por mais que as pessoas duvidassem era perceptível o orgulho que você tinha de estar com ela. Sua companheira, sua melhor amiga, quantas coisas já passaram juntos né? Aposto que isso serviu para fortalecê-la mais.
Você deve saber, ela passou por uns momentos bem difíceis estes últimos tempos, o pai e a mãe foram embora também, eles estão no mesmo lugar que você? Puxa se tiverem tenho certeza que a Sra. F está te enchendo o saco até não poder mais, estou rindo bastante aqui só se imaginar. Mas a Sr. J está forte como nunca, ela é uma guerreira, por mais que sejam difíceis as situações ela não se deixa abater. Tenho orgulho dela. O Sr. J, puxa vida como ele está grande. As vezes penso que ele vai me passar, vergonhoso isso não é? Sempre me vangloriei de ser o mais alto da família, e agora estou perdendo o posto. Está cada vez mais bonitão, mas o posto de galã da família não perco não, ele vai ter que lutar muito pra isso.
A Srta. J, puxa que mulher que ela se tornou. Você estaria com uns bons cabelos brancos tenho certeza. Acredita que ela fez uma tatuagem nas costas? Sim pega as costas inteiras, é linda, mas sei que se você estivesse aqui iria querer arrancar na faca. Ela está namorando firme com um tal de Cadu, gente fina, já andei dando um observada, não se preocupe ela não está sozinha, mesmo que você não esteja aqui ela ainda tem eu e o Sr. J para cumprir o papel de inspetor.
Sua mãe continua aquela criatura louca de sempre. Andava um pouco triste, mas a pouco tempo saiu de férias, toda importante, foi pro Rio de Janeiro e foi uma alegria muito grande poder ouvir a risada escandalosa dela novamente. Seu pai está grisalho de vez, sim deixou de passar o famoso Grecin 5 que eu e a Srta. J vivíamos brincando quando éramos crianças, e adotou de vez a idade. Mas não se engane ele continua bonitão, coisa da família né?
Acho que está querendo saber dos seus irmãos não é? Bom, Sra. R continua daquele mesmo jeito, uma hora vai ser tragada por aquela cama. Sr. D está noivo, acho que agora finalmente a gente desencalha o último irmão Gomes solteiro. Embora esteja reformando o quarto ao invés de propor casamento de vez. Meu pai, bom está bem, continua gordo e nossa quando eu olho pra ele eu vejo tanto de você sabe? O jeito, as expressões, o jeito bobo alegre de ser as vezes, acho que por isso se acontecesse algo com ele era com você que eu ficaria, pois você é o que mais se aproxima da personalidade dele, tenho certeza que faria o serviço tão bem quanto ele. Minha mãe continua magrela. Nossa ela sofreu tanto quando você se foi, ela gostava muito de você, sei que era recíproco, era visível pela maneira que vocês sempre se tratavam.
Bom agora você deve esta querendo saber de mim não é? Claro, que cabeça minha. Vamos ver! Eu estou bem, estou fazendo faculdade. Se você estivesse aqui seria o primeiro para quem eu correria para contar. E tenho certeza também que você iria rir muito e me dar uns bons cascudos, afinal eu comecei cursando Administração e desisti para fazer Publicidade, mas eu sei também que depois do cascudo você me apoiaria e mandaria eu seguir o que tenho paixão.
Abandonei o piano. Calma, não grite, não me bata, não fique bravo. Não tem um dia que eu não fique bravo com você, por nunca ter ido me ver tocar. Nunca me esqueço do dia que você olhou pra mim e disse que sentia orgulho de mim por eu ter um dom para música, e que não era pra eu abandoná-lo nunca. Bom, eu em parte abandonei né? Será que você poderia me perdoar? Mas olha, descobri minha verdadeira vocação. O canto. E estou me saindo muito bem, então não enterrei meu dom na verdade não é?
Fiz uma tatuagem, não grande nas costas como da J, uma clave de Sol, pra representar esse assunto tão importante na minha vida que é a música, e que você sempre entendeu e apoiou, obrigado por tudo tá? Como é ai? Você está se cuidando? Eu estou morrendo de saudades sabia? Sei que você sempre dá um jeito dar uma espiadinha para saber como estamos indo, eu sei disso sabia? Podia ser seu segredinho mas eu descobri, sou muito esperto. hehehe.
Sabe? Se você está olhando a gente, eu sei que as vezes pode não ficar feliz com o rumo que as coisas tomam por aqui. É difícil acertar sempre. Eu sei que você deve ficar furioso com o fato de muitas vezes sermos fracos e covardes e desperdiçarmos as chances de sermos felizes assim pela janela, simplesmente pelo medo de arriscar ou medo do amanhã. Sei que você deve se entristecer comigo as vezes, e não há nada que me entristeça mais do que quando imagino que você está olhando pra mim e não está se orgulhando. Mas eu sei que você sabe também que eu sempre tento concertar no fim. Eu sinto muito sua falta, os almoços de fim de ano nunca mais foram os mesmos, nada nunca mais foi o mesmo sem você, a gente só foi se adaptando a viver com esse buraco, esse vazio, mas é só relembrarmos um pouco que as lágrimas rolam. É inevitável. Sei que as lágrimas rolam por ai também, você sempre foi uma Maria mole. Bom, vou me encerrar por aqui, já escrevi demais. Um dia a gente vai se encontrar de novo, e ai continuamos nossa conversa. E faremos uma boa retrospectiva da vida de nossa família.
Fique bem. Do seu sobrinho que tanto de ama.
Bruno